segunda-feira, 10 de junho de 2013

O Evangelho de São Mateus


Resenha do texto: CARTER, Warren. O Evangelho de São Mateus: Comentário sociopolítico e religioso a partir das margens: São Paulo: Paulus, 2002. P. 15-80.

 
Felipe Sardinha Bueno
 

            O referido texto aborda como centralidade temática a construção semântica do Evangelho de São Mateus, no que tange ao ambiente que foi gestado, a fundamentação de elementos utilizados trazidos da tradição judaica, o público-alvo (“audiência” – termo usado pelo autor), e as concepções de conflito e “marginalização” presentes no decorrer da obra.

            No que se constitui como metodologia inerente, o corpo textual analisado é subdividido em dez partes, respectivamente: Ler e escutar uma contranarrativa; o que fazem os evangelhos? Legitimar uma identidade e um estilo de vida; como o evangelho forma a identidade comunitária e modela o estilo de vida; o evangelho de Mateus: quem, onde e quando; discipulado em Antioquia; onde estão os cristãos de Mateus em Antioquia; a audiência de Mateus: numericamente pequena; tensão com a sinagoga; presença imperial romana; e defendendo uma existência marginal.

            “O evangelho constrói uma cosmovisão e uma comunidade alternativas. Afirma um modo de vida marginal às estruturas dominantes” (p. 15) – Carter introduz sua reflexão abordando a observação de que o evangelho é caracterizado por ser radicado em mecanismos marginais da sociedade: pobres e excluídos. Enquanto as elites judaicas se aliavam ao poder imperial de Roma para sustentar e manter seus interesses de classe, sócio-político-econômicos, a grande massa popular, incluindo os nascentes cristãos, eram profundamente oprimidos, explorados e esquecidos pela autoridade vigente. Os estudos escriturísticos levam a crer que tal evangelho foi elaborado entre os anos oitenta e noventa do primeiro século da era cristã (pós-destruição do templo de Jerusalém em 70 d.C), o que leva a pensar que a Boa Nova de Marcos (formulada antes do ano setenta) fora parte da fonte documental para o erigir do texto mateano.

            Sabe-se que o autor não se identifica como a mesma pessoa do discípulo Mateus, citado no próprio corpo evangélico (cf. Mt 9,9). Provavelmente, entre as hipóteses apresentadas, o desconhecido escritor aproveita o nome desse líder, o qual no passado foi animador da comunidade, a qual é endereçada a obra; ou a própria utilização estilística do nome grego, que se aproximando a mathetes (discípulo) pode apontar para o objetivo dessa Boa Notícia publicada, que é formar e auxiliar a igreja no seu caminhar apostólico no seguimento a Jesus.

            Crê-se que a audiência desse evangelho, i.é, os seus destinatários sejam oriundos de Antioquia, localidade importante na Síria, onde se encontram muitos judeus em diáspora, além de ser um local de presença romana intensa.

Um dos pontos observados é o conflito existente entre a sinagoga (ambiente de comunhão de fé judaica) e os novos adeptos da ekklesía nascente, que começam a assumir o seguimento a Cristo, o qual é visto como não opositor da Lei, Torah ou Escrituras Sagradas, mormente seu fiel cumpridor, onde as promessas do Antigo Testamento se realizam.

 

·         Marginalidade e conflito

 

O deixar-se trilhar nos caminhos de Jesus não se constitui como tarefa simples desde os tempos das primícias do Cristianismo, período (primeiro século) e espaço (Oriente Médio: Palestina, Antioquia) gerador do evangelho de Mateus. Contrário ao imperialismo cruel dominante, a proposta alternativa concretizada na comunidade dos discípulos de Jesus se efetivará na fraternidade, justiça e amor mútuo, superando litígios de desigualdade entre pobres e ricos, homens e mulheres, judeus e não-judeus, reconhecendo um novo mundo possível, o “império de Deus” (Basiléia thou Theou), onde a vida e a dignidade de cada um são respeitadas como princípios inalienáveis. Sabe-se, porém, que esse modus vivendi aparentava-se fenômeno ameaçador à manutenção dos interesses de uma minoria detentora do poder, o que levará à marginalização desse grupo cristão, o qual por aderir à pessoa de Jesus, terminará por assumir consequentemente e livremente o status de marginalidade social (voluntária).

A denúncia não se restringirá à arrogância da autoridade romana, todavia aos próprios judeus que não aceitam Jesus como o enviado do Pai. Certamente tal expressão contrária se dará por duas razões: primeiramente pela exclusão progressiva dos cristãos da sinagoga (comunidade judaica), e também pelo fato de se observar na destruição do templo de Jerusalém uma conseqüência do não reconhecimento a Jesus como aquele que providenciou a salvação/ redenção. Com essas chaves de leitura pode-se entender o porquê da denúncia da sinagoga como ambiente de hipocrisia e violência, não obstante por razões de fidelidade hermenêutica, faz-se necessário analisar que o contexto não favorável aos cristãos em Antioquia e em demais localidades do império e da presença judaica massiva não era nada fácil.

Esse povo judeu apesar de tais denúncias, não será totalmente “ojerizado” pelo autor sagrado. A comunidade primitiva é formada, em boa parte, por judeus, além dos pagãos (prosélitos). A aliança estabelecida nos tempos patriarcais não será abolida, mas renovada, ampliada. Jesus se configurará desde os primeiros versículos da obra mateana como descendente de importantes personagens da história da salvação, como Abraão, Isaac, Jacó, Judá, Salomão, entre outros (cf Mt 1,2-17) além disso apresentar-se-á como revelador da vontade divina desde o começo (cf. 19,3-6), passando pelo ensinamento de Moisés (cf. 8,1-4), Davi (cf. 12,3; 22,42-45) e dos profetas (cf. 9,10-13). O seu sangue não será, porém visto plenamente e propositalmente como “puro” nas concepções formuladas pelos judeus, principalmente pelo fato de ser, Jesus, “filho” de estrangeira (presente na genealogia): Rute e até mesmo de mulheres “pecadoras”: Tamar (que se disfarçou de prostituta para se envolver com Judá) e a mulher de Urias (adúltera e amante do rei Davi). Jesus reunirá em seu projeto libertador todos os povos. Nele além de se cumprirem as promessas da Aliança, serão acoplados aqueles que estão esquecidos e marginalizados. Nele, os pobres, judeus ou pagãos, serão colaboradores, construtores e protagonistas do Reino, alternativa de transformação de toda a humanidade.

A misericórdia, a retidão e a justiça serão “bandeiras” desse novo grupo, indicando um Deus Abba, Pai, que se compadece, resgata e proporciona uma via distinta de igualdade e amor entre os homens. Para isso os cristãos aos poucos se efetivarão independentes da estrutura sinagogal, formando uma alternativa assembleia de homens e mulheres, cuja vida se buscará orientar-se no, diante e pelo Reino de Deus.

Um comentário:

eglamourpagac disse...

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